segunda-feira, outubro 13, 2008

Há quanto tempo...........tanto silêncio!!!!!!

Após tão longa ausência consegui disponibilidade mental para voltar a escrever. As asas têm andado muito encollhidas e impedidas da sua função que é voar, por muitas e variadas circunstâncias, mas o desejo de voar é recorrente em mim e penso que voltou em força, embora o tempo continue a escassear, mas a vontade de escrever algo é mais forte que tudo o resto!
Os meus dias correm velozes, deviam ter 96 horas, quase não páro, não tenho tempo para ler, o que deixa doida, mas vai dando para pensar e clarificar ideias. Como não tem havido tempo para muitas novidades, andei na biblioteca da memória a vasculhar, fechei os olhos e a primeira pessoa que me ocorreu para ler foi o meu ilustre conterrâneo, que cada vez admiro mais, o poema é um clássico, mas não me canso de o ler, reler, cantar e ouvir:



Trova do vento que passa

Pergunto ao vento que passa
notícias do meu país
e o vento cala a desgraça
o vento nada me diz.
Pergunto aos rios que levam
tanto sonho à flor das águas
e os rios não me sossegam
levam sonhos deixam mágoas.
Levam sonhos deixam mágoas
ai rios do meu país
minha pátria à flor das águas
para onde vais? Ninguém diz.
Se o verde trevo desfolhas
pede notícias e diz
ao trevo de quatro folhas
que morro por meu país.
Pergunto à gente que passa
por que vai de olhos no chão.
Silêncio -- é tudo o que tem
quem vive na servidão.
Vi florir os verdes ramos
direitos e ao céu voltados.
E a quem gosta de ter amos
vi sempre os ombros curvados.
E o vento não me diz nada
ninguém diz nada de novo.
Vi minha pátria pregada
nos braços em cruz do povo.
Vi minha pátria na margem
dos rios que vão pró mar
como quem ama a viagem
mas tem sempre de ficar.
Vi navios a partir
(minha pátria à flor das águas)
vi minha pátria florir
(verdes folhas verdes mágoas).
Há quem te queira ignorada
e fale pátria em teu nome.
Eu vi-te crucificada
nos braços negros da fome.
E o vento não me diz nada
só o silêncio persiste.
Vi minha pátria parada
à beira de um rio triste.
Ninguém diz nada de novo
se notícias vou pedindo
nas mãos vazias do povo
vi minha pátria florindo.
E a noite cresce por dentro
dos homens do meu país.
Peço notícias ao vento
e o vento nada me diz.
Quatro folhas tem o trevo
liberdade quatro sílabas.
Não sabem ler é verdade
aqueles pra quem eu escrevo.
Mas há sempre uma candeia
dentro da própria desgraça
há sempre alguém que semeia
canções no vento que passa.
Mesmo na noite mais triste
em tempo de sevidão
há sempre alguém que resiste
há sempre alguém que diz não.

Manuel Alegre