segunda-feira, janeiro 09, 2006

Os vivos-mortos e os mortos-vivos



Cada pessoa arrasta consigo uma série de vivos-mortos!
Ao longo da vida, muitos são os que entram e saem da nossa existência; uns deixam mais marcas que outros, alguns aproximam-se lentos, outros de rompante, outros inesperadamente mas, todos, todos nos marcam inexoravelmente, de forma pessoal e intransmissível!
No fundo, nós somos uns coleccionadores, não de cromos nem de selos, mas de marcas pessoais, de pegadas!
Uns saem tal como entram- lentos, outros de rompante e todos mais ou menos inesperadamente. Uns saem porque a vida não lhes permite, outros por opção e outros porque, pura e simplesmente, os matamos! ( Afinal todos somos uns assassinos!!!)
São estes últimos os vivos-mortos! Por um motivo ou por outro, pelo muito e pelo pouco, vamos matando-os um pouquinho, cada dia, no nosso íntimo, lá no compartimento chamado coração em que os emprateleirámos. ( O nosso coração deve ser muito grande mesmo, pois cabem lá tantas pessoas ao longo da nossa passagem por esta vida!!... E além do espaço para os vivos, há também o cemitério!) Até que um dia lhes damos finalmente o golpe de misericórdia, forçados pela insustentabilidade de os mantermos vivos, graças as pequenas mortes que nos foram inflingindo a pouco e pouco. Sim, porque não somos nós que os matamos, são eles que se matam em nós! Aí nada mais resta que desferir o golpe fatal e mudá-los da prateleira dos vivos para o cemitério. Pensamos nós que com este procedimento nos vemos livres deles e de tudo o que nos fizeram........Errado!!!! Porque, embora, tal como os tantos outros mortos-mortos que estão por esses cemitérios fora, estejam entabuados, encurralados, encarcerados, confinados ao caixão em que os metemos, estes são muito piores pois temos que os carregar sempre conosco.! Mortos, mas arrastamo-los sempre para onde quer que vamos. Deve ser deste acumular de vivos-mortos que resulta o aumento de peso que normalmente ocorre com a idade! E, pior, é que, apesar dos nossos esforços para os matar, nunca os matamos bem mortos, porque temos sempre que os carregar conosco pois estão vivos e um dia, quando menos se espera, damos de caras com eles ao virar de uma qualquer esquina da vida........e, aí, lá ressuscitam novamente!!!
Ao menos os mortos-mortos são muito mais fáceis de lidar, porque sabemos que não vão fugir dali, por muito que, por vezes, nos custe!! Eu prefiro, de longe, os mortos-vivos, porque, ao contrário dos outros, ao morrerem, como não fomos nós que os matámos para nós, ascendem de categoria, passam a Imortais, sendo, como tal, muito mais fáceis de carregar....
Estes estão noutra prateleira, noutro lado, mais cá para cima na biblioteca que é o nosso coração! Tendemos a pô-los num lugar mais à mão, para que lhes possamos mexer sempre que quizermos, que precisarmos ou, simplesmente, para nos deleitármos com as doces recordações das vivências em conjunto de um tempo que não volta e que, teimosamente, qual Peter Pan, teimamos, pelo prazer que nos dá, em manter!!!

1 Comments:

Blogger PMarques said...

Eu prefiro deixar suavemente que se "descolem" de mim, deixando sempre um fiozinho de contacto, para "chamadas" futuras. Os que vão de vez, os que se afastam, têm sempre um lugar em mim, mas consigo contornar esse facto arrumando muito bem a minha cabeça. Tive de o aprender. :-)

9:45 da manhã  

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