quarta-feira, janeiro 04, 2006

Nostalgia



Hoje acordei extremamente nostálgica, voltei anos atrás, senti o cheiro das andorinhas em flor em casa da avó G., por baixo da latada que dava par o poço de pedra de onde, se nos debruçássemos, saia a Maria Gancha que, com o seu gancho nos puxava para o fundo do poço! Revi o avô A. e os seus profundos olhos azuis e todas as obras de arte em madeira que sairam da sua imaginação. Saboreei novamente os ovos estrelados cobertos de açúcar amarelo servidos em prato de alumínio em casa da tia A., que nunca mais na vida consegui comer, por achar que só ali fazia sentido! Revi as brincadeiras e partidas que fazia com o avô e as histórias que ele contava dos seus tempos de juventude e do tempo que passou na tropa nos Açores.
Veio-me à memória uma canção magnificamente interpretada pelo Adriano Correia de Oliveira- o Cantar de Emigração-"...Este parte, aquele parte e todos, todos se vão....tens em troca orfãos e orfãs...". Acho que de certa forma me sinto orfã de todos aqueles que foram partindo e que foram estruturantes para mim, pois cada um ao seu modo me transmitiu alguns ensinamentos e com o seu pequeno tijolo todos contribuiram para me edificar enquanto pessoa. Cada um a seu jeito contribuiu para melhorar um pouco este mundo, só por terem existido. Bem hajam!
Nestas divagações veio também a Balada de Outono do Zeca Afonso:

Águas e pedras do rio
Meu sono vazio
Não vão acordar
Águas das fontes calai
Ó ribeiras chorai
Que eu não volto a cantar

Rios que vão dar ao mar
Deixem meus olhos secar
Águas das fontes calai
Ó ribeiras chorai
Que eu não volto A cantar

Águas do rio correndo
Poentes morrendo
P'ras bandas do mar
Águas das fontes calai
Ó ribeiras chorai
Que eu não volto A cantar

Rios que vão dar ao mar
Deixem meus olhos secar
Águas das fontes calai
Ó ribeiras chorai
Que eu não volto A cantar

Não sei bem explicar, mas sempre que fico assim, vêm logo o Adriano e o Zeca para se fazerem ouvir até à exaustão.....acho que embora não me sinta portuguesa, pois nasci bem longe daqui, onde o pôr de sol era lindíssimo e o horizonte não tinha fim, onde a terra era vermelha, sinto bem um sentimento tipicamente português que é a saudade....cuja melhor expressão que encontro para o traduzir é o Fado!

1 Comments:

Blogger Leonor said...

Como te compreendo... Além de órfã do meu pai sinto-me também assim. Bjs muito grandes, linda.

11:05 da manhã  

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