quinta-feira, janeiro 05, 2006

"...Antigamente todos os contos para crianças terminavam com a mesma frase, e foram felizes para sempre, isto depois de o Príncipe casar com a Princesa e de terem muitos filhos. Na vida, é claro, nenhum enredo remata assim. As Princesas casam com os guarda-costas, casam com os trapezistas, a vida continua, e os dois são infelizes até que se separam. Anos mais tarde, como todos nós, morrem. Só somos felizes, verdadeiramente felizes, quando é para sempre, mas só as crianças habitam esse tempo no qual todas as coisas duram para sempre...."
José Eduardo Agualusa, in 'O Vendedor de Passados'


Acho que hoje em dia já nem as crianças habitam no tempo em que as coisas duram para sempre! Cada vez mais cedo elas vão tendo a noção de que tudo é efémero, são os brinquedos, são os amigos, são os seus gostos....enfim, até elas se apercebem da inquietação em que vivem! Acompanham, por arrastamento, o mundo em que vivem, ou melhor, em que vivemos.....Andamos, corremos, buscamos, ansiamos, crescemos, obtemos, desiludimos e mudamos...é mais ou menos assim que as coisas se passam. Mudamos, andamos, corremos, buscamos, ansiamos, crescemos, obtemos.....e mudamos!!! Passamos a vida neste ciclo vicioso à procura de qualquer coisa sempre inatíngivel, porque nunca é bem aquilo que temos que queremos. Mas afinal o que é a felicidade? Concluo que não há felicidade, enquanto conceito vasto e perene, mas sim momentos felizes que vamos colecionando neste correr atabalhoado a que chamamos .....vida!